sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O amor é um lugar estranho

Semana passada, na Prova Oral do Fernando Alvim discutia-se a questão do amor. Do amor romântico. E eu ando a pensar nisso desde essa altura. Não sei se acredito no amor. Nesse tipo de amor, pelo menos. O amor tenho-que-sentir-e-fazer-isto-porque-é-assim-que-se-faz-quando-se-sente-amor. O amor "faço tudo por ti, porque é assim que faz quem ama, ( mesmo que amanhã deixe de sentir isso e te mande um pontapé bem dado no traseiro). O amor "queremos tanto acreditar que somos felizes que até enjoa". O amor que é constantemente apregoado e vendido a preços de saldo. O amor dos filmes e das novelas. Não, definitivamente não acredito. O amor romantico é uma ficção. Uma construção social. Uma droga dura que nos engana a todos. Não existe.

Existe a paixão, esse estado ora eufórico ora letárgico em que mergulhamos quando queremos sugar a outra pessoa até ao tutano. Comê-la em colherinhas pequeninas. Fecha-la bem num frasco para não fugir, como diz a música. Tudo o resto não existe da forma como insistimos em vendê-lo. É uma miragem. Apenas uma miragem.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A propósito da leitura e dos livros

Durante a adolescência, e no inicio da idade adulta repeti muitas vezes a frase de que as pessoas que lêem são mais interessantes. Aliás, do alto da minha toda-poderosa sabedoria dos dezoito anos, disse muitas vezes ser capaz de distinguir perfeitamente, em cinco minutos de conversa uma pessoa que lia, de uma pessoa que não lia. Hoje não estou tão certa disso, felizmente. Aliás, acho que quanto mais os anos passam, menos certezas tenho em relação a tudo. Se calhar é a isso que se chama maturidade.
Pensando bem, nesta altura da minha vida, sobra a certeza de que, enquanto ando perdida com as leituras dos outros, alguém anda a viver a vida por mim.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Afinal o que é que queriam que o Cardeal Patriarca dissesse?

Casai-vos, minhas filhas, com Muçulmanos, que diz que é gente que tem fama de tratar muito bem das mulheres?


domingo, 25 de janeiro de 2009

Vendo vida

Só não vendo o filho, de resto podem levar tudo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Yes he can

Não. Não pensem que vou reclamar da vida. Que me vou queixar de já ter enviado cento e vinte mil currículos e de ninguém me ter chamado para uma entrevista. De ter reunido com a chefe para a ouvir mandar-me "auferir" o resultado de determinada acção. De ouvir a coleguinha do lado repetir as palavras "dromir" e "adromecer" até à exaustão. De ter o carro avariado nos travões e de não saber como vou pagar o arranjo. De ter um trabalho para fazer sobre modernidade e pós modernidade e não ter a mais pálida ideia por onde começar. Não. Hoje não. Hoje acredito no Messias.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Hoje sinto-me assim

"Já sou quem tu queres que eu seja
tenho emprego e uma vida normal
Mas quando acordo e não sei
quem eu sou, quem me tornei
eu começo a bater mal.."

Deolinda

sábado, 17 de janeiro de 2009

Que será?

O que é que dá andar quatro dias a comer batatas fritas Lays Gourmet, tostas com manteiga da Leitaria da Quinta do Paço e coca-cola fresquinha com sumol de ananás?
Dá numa grande lontra, é no que dá.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Venha fazer jogging a Central Park

É a publicidade da tap a Nova Iorque já pelo menos há dois anos. Agora podem mudar para "Venha dar um mergulho no Hudson". Parece-me mais adequado.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Pede-se

encarecidamente ao marido da chefe que lhe dê seja lá o que for que ela precisa.
Que a leve ás estrelas ou então com força contra uma parede.
Que a ponha com um sorriso na cara ou a esguichar sangue pelos olhos.
Que a trate bem ou deixe mais alguém tratar, pela saúde das sete ou oito almas que tem que levar com o mau humor de sua excelência, dia após dia, hora após hora, minuto atrás de minuto.
Senão, qualquer dia, trato eu disso.
Da parte dos olhos a esguichar sangue, entenda-se.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Coragem

para mudar de vida.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Maria vai ao Hospital

Dor no peito. Forte. Muito forte. Vários dias seguidos, sem explicação. Ligo para a linha Saúde 24. A senhora enfermeira informa-me que o caso pode ser grave e aconselha-me a dirigir ao Hospital da àrea de residência no espaço de uma a quatro horas. O hospital da área de residência é o de Valongo.

Uma urgência hospitalar é, já de si, uma coisa extraordinária, mas uma urgência hospitalar cheia de Gondomarenses é qualquer coisa de nunca visto. É que o Gondomarense é feliz no Hospital. Gosta de lá ir. Gosta do cheiro. Aliás, o bom do Gondomarense leva o seu próprio cheiro de casa para o Hospital para o ver a lutar com aroma a desinfectante. E ganha sempre.

Chego e vou para a triagem. Refiro dores no peito sem mais sintomas e o senhor enfermeiro,que parece saído directamente de um episódio dos Ficheiros Secretos, enfia-me uma bracelete laranja no braço.

Entro na sala de espera. Várias cadeiras vazias e os Gondomarenses em pé a confraternizar. Encostada à parede, uma senhora de olhos encovados com um saco na mão a dizer "lixo tóxico". É a única com aspecto doente. Os outros parecem felizes. Genuinamente felizes. Contam estórias épicas de esperas de oito horas para sacar uma receita de ben-u-ron. Falam de hemorróidas, e de gargantas com pús enquanto abrem o saco, de onde tiram pão com manteiga para dar às crianças. São visitas da casa. Vêm preparadas para tudo.

A minha bracelete laranja causa curiosidade. Ás tantas a senhora do saco do "lixo tóxico" deita-se no chão. Não se vislubra um médico, um enfermeiro ou um auxiliar. A sala de espera acorre em peso para a ajudar. Vão buscar uma maca e deitam-na lá em cima. Aumenta a intensidade dos olhares na minha direcção. Alguém comenta em voz alta que não se percebe como é que uns que estão tão doentes tem a fita amarela, e outros que parecem finos, tem a fita laranja. Acho que a boca é para mim. De repente se calhar já não me sinto tão mal. Penso em ir embora.

Entretanto, lá me chama o senhor doutor. Sinto os olhares de reprovação e quase que desejo ter uma coisa assim para o grave para justificar o diabo da bracelete. O senhor doutor é ucraniano. Não percebo muito do que diz.Está nervosa? Não. Está muito nervosa? Não. Costuma estar nervosa? Não. Está Stressada? Não. Costuma estar stressada? Não. O senhor doutor insiste. Efectivamente começo a ficar um bocadinho nervosa com esta conversa. Ele lá tem pena de mim e manda-me fazer um raio-x.

No Raio X encontro o António Calvário a fazer de enfermeiro. Trata-me por tu. Hesito em tratá-lo por tu também, mas ele pôe fim à conversa para me dizer que " por mim tás despachada, vai lá ter com o Doutor outra vez". Neste momento já tenho dúvidas se alguma vez vou conseguir sair deste hospital. O Hotel Califórnia vem-me à memória vezes sem conta. Se calhar já estou a delirar.

Regresso á sala de espera. Não há nada como um Hospital quentinho e reconfortante. De um lado e do outro do corredor, doentes animados e bem dispostos. As cadeiras vazias. Faz sentido. Quem está doente fica muito melhor em pé.

Regresso ao Senhor Doutor ucraniano. Tenho dificuldades em perceber o que diz, mas juro que o oiço dizer que os meus batimentos cardiacos são "sensuais". Ou então sou eu que já estou dominada pelo espirito de alegria e animação hospitalar e oiço o que quero ouvir. Neste momento tenho duas cabeças e numa delas só toca o "Hotel Califórnia".

Passa hora e meia. O senhor doutor manda-me tomar uma injecção para o ajudar a fazer o "diagnóstico diferencial". Tenho medo de agulhas. Resisto. Ele insiste. Mais vinte minutos à espera de uma enfermeira. Começo a sentir-me muito melhor. Penso em desistir. A música continua a tocar na minha cabeça:" you can chek out any time you want but you can never leave".

Sinto-me a suar. Se calhar o senhor doutor tem razão. O meu mal é stress. E o stress cura-se em casa. Com chá e com miminho. Com músiquinha a tocar. E com a lareira acesa. Fujo. Cá fora o ar puro. Já não me doi nada.

O pequeno Afonso Henriques

deu-me um pontapé no peito e partiu-me uma costela.
Mal posso esperar pela adolescência...