quarta-feira, 15 de abril de 2009

Chuva

Quando eu era pequenina, muito pequenina, gostava destes dias de chuva, porque ficava muitas vezes, em casa da vizinha, a olhar para a ventania que fustigava o quintal lá fora, e o quintal na verdade não era um quintal, mas um mato, uma floresta, com uma dimensão muito para além daquela espaço minúsculo cheio de casotas de cão, de galinheiros, de arbustos e de chão plantado com meia dúzia de cebolas ou batatas, consoante a altura do ano, e a vontade de um senhor velho, muito velho, que a minha avó chamava para ir tratar do quintal.
Quando eu era pequenina, o quintal encerrava todo o meu Mundo. Era dali que eu sonhava conquistá-lo. E eu não via um quintal. Via o Mundo.
Passeava de triciclo no meio dos arbustos, e o meu triciclo era um comboio.
Nadava frequntemente na minha piscina, situada mesmo entre o galinheiro e o poço.
Cozinhava pedras e terra, que sabiam a gomas e chocolates.
Quando eu era pequenina, muito pequenina, esta chuva não me assustava porque tinha sempre para onde correr e podia abrigar-me debaixo das orelhas de um cão grande, muito grande, debaixo das asas de um avião acabado de aterrar, ou debaixo do avental da minha avó.
Quando eu era pequenina era feliz porque sabia que a minha vontade podia tudo. E é nisso que quero acreditar nestes dias de chuva: que ainda posso tudo.
Ainda posso sonhar em mudar o Mundo. Nem que seja o meu. E nem que seja só um bocadinho.
E é por isso que agora está sol na minha rua.



2 comentários:

Kika Canas da Lapa disse...

:)

Tb quero sol na minha rua... porque aqui chove mais do que eu desejo :S

Fénix disse...

Ai ai... O que este post me fez lembrar os felizes anos da infância...

Quero aquele mundo de volta ;)