quinta-feira, 21 de maio de 2009

Não sei se da próxima vez vá antes ao veterinário

Maria vai, acompanhada do gajo da Maria, à ecografia, ver, pela primeira vez o pequeno rebento.
Diz a médica, num assomo de alegria e de loucura "ai que lindo, parece mesmo a minha Vitórinha!".
- "E quem é a Vitórinha?" - perguntamos nós, pais ansiosos por uma comparação grandiosa entre o nosso pequeno feijão e um ser aparentmente tão importante para a senhora doutora.
- "É a minha cadelinha, também costuma pôr-se assim com as patinhas para a frente..."

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mas como é que eu nunca pensei nisto antes?

Desempregado francês oferece rim em troca de emprego.

sábado, 16 de maio de 2009

Maria vai à escola II

A pequena Maria apresenta-se para o estágio no Centro Novas Oportunidades que lhe foi designado pela Faculdade.
1º Momento Espectacular: chego e peço para falar com a Maria João, pessoa com quem supostamente vou assistir a uma reunião e aprender umas coisas. A colega de sua exa., do alto dos seus aparentes quinze anos, corrige-me diligentemente para "Dra. Maria João".
Faz toda a diferença, eu é que não tinha reparado.
Manda-me entrar porque a senhora doutora ainda não chegou. Simpáticamente diz às colegas que me olham com abutres que sou "uma estagiária" e depois atira-me com um "senta-te para ai, que ela deve estar a chegar".
Começa bem.
Lá me sento num cantinho onde acho que não devo incomodar muito as senhoras doutoras, ocupadas que estão a comer Kit Kats e a mandar bocas cool umas às outras.
Uma delas, mais afoita, aproxima-se de mim com o Kit Kat na mão para pedir para eu mudar de sítio porque precisa de usar aquele computador. Respiro fundo. Por momentos penso em enfiar-lhe um estalo e roubar-lhe o kit kat. Depois decido dar-lhe outra oportunidade. Lá me levanto e vou para outra mesa.
Cinco minutos depois e outra "doutora" pede-me para sair daquela mesa porque tem que usar aquele computador. A hipotese do estalo torna-se mais viva dentro de mim. Começo a ficar, digamos que, nervosa, mas controlo-me e lá vou para outro lado.
2º Momento Espectacular - entra a tal "Dra. Maria João". Informam-na, alto e bom som, da minha presença e de que venho assistir a uma reunião que ela vai coordenar. Encolhe os ombros. Encolhe mesmo. Não olha para mim, não vem falar comigo. Sinto-me num episódio da Betty Feia, com a diferença de que sou ligeiramente mais gira, e de que na minha cabeça só passa um filme: Kit Kat para cima, Kit Kat para baixo, Kit Kat aberto, Kit Kat fechado, Kit Kat na mão, Kit Kat na boca...
3º Momento Espectacular - passaram quarenta minutos desde que cheguei e comecei a dança das cadeiras e a senhora Doutora lá decide começar a reunião. Não me chama. Não me diz nada. Eu continuo ali sentada tipo cão, com a boca aberta à espera de estabelecer contacto visual com alguma daquelas alminhas e a sentir-me invisível. A reunião começa e nada. Se calhar morri e ninguém me avisou.
Respiro fundo pela segunda vez. Dirijo-me à única pessoa que sobrou e informo que, assim de repente acho melhor ir-me embora, visto aparentemente, não interessar muito a ninguém que eu participe na reunião.
A menina-doutora desculpa-se muito, diz que as colegas provavelmente estavam distraidas, para eu entrar assim mesmo. Oh yees sister! É mesmo isso que eu vou fazer...entrar sozinha no covil das lobas sem ser convidada...
A menina-doutora compreende, pede desculpas e informa que talvez eu gostasse de assistir a uma sessão de explicitação (?) com outra menina-doutora que está mesmo a começar.
Eu já estou por tudo.
Encontro-me com a segunda menina-doutora e informo-a da minha intenção. Escandalizada , pergunta quem me mandou ir ter com ela.
Eu sou uma chiba. Não há hipotese. Dou imediatamente o nome da menina-doutora número um.
Agora é a menina-doutora número dois quem respira fundo. Pede-me uns minutos e vai lá abaixo num instante partir a menina-doutora número um ao meio. Por mim tenho tempo, esteja à vontade...até se quiser aproveitar para partir as outras todas....be my guest....
Eu aguardo a sessão de explicitação em rejubilosa esperança, oscilando entre o dever de me manter ali e a vontade de mandar tudo às urtigas e de ir comprar um kit kat.
A menina-doutora número dois lá aparece. Apresenta-se aos alunos, todos com idade acima dos quarenta, como "doutora R.".
Dá-me vontade de rir. A sério que dá. Cada vez mais.
Mais pessoas e menos doutoras, tinhamos todos a ganhar.


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Grávida

Blog temporarimente encerrado até a autora conseguir tirar a cabeça de dentro da sanita.

domingo, 26 de abril de 2009

Mais uma do sítio do costume...

Em Espanha também se comemora o 25 de Abril, não é?

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Morte

Enquanto escolhia o fato na loja, o meu amigo L. nunca imaginou que aquele fato era o mesmo que ia vestir, meses depois, ao pai morto.
E foi só disso que ele falou toda a noite, sentado ao lado do pai, que mal se via debaixo daqueles rendilhados todos que é costume colocarem aos que morrem.
Do fato que teve que vestir ao pai morto.
Como se tudo na morte do pai se resumisse a isso.
Não posso imaginar dor igual.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Voltei à escola

E estava tudo igual. Só vi pessoas felizes.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Chuva

Quando eu era pequenina, muito pequenina, gostava destes dias de chuva, porque ficava muitas vezes, em casa da vizinha, a olhar para a ventania que fustigava o quintal lá fora, e o quintal na verdade não era um quintal, mas um mato, uma floresta, com uma dimensão muito para além daquela espaço minúsculo cheio de casotas de cão, de galinheiros, de arbustos e de chão plantado com meia dúzia de cebolas ou batatas, consoante a altura do ano, e a vontade de um senhor velho, muito velho, que a minha avó chamava para ir tratar do quintal.
Quando eu era pequenina, o quintal encerrava todo o meu Mundo. Era dali que eu sonhava conquistá-lo. E eu não via um quintal. Via o Mundo.
Passeava de triciclo no meio dos arbustos, e o meu triciclo era um comboio.
Nadava frequntemente na minha piscina, situada mesmo entre o galinheiro e o poço.
Cozinhava pedras e terra, que sabiam a gomas e chocolates.
Quando eu era pequenina, muito pequenina, esta chuva não me assustava porque tinha sempre para onde correr e podia abrigar-me debaixo das orelhas de um cão grande, muito grande, debaixo das asas de um avião acabado de aterrar, ou debaixo do avental da minha avó.
Quando eu era pequenina era feliz porque sabia que a minha vontade podia tudo. E é nisso que quero acreditar nestes dias de chuva: que ainda posso tudo.
Ainda posso sonhar em mudar o Mundo. Nem que seja o meu. E nem que seja só um bocadinho.
E é por isso que agora está sol na minha rua.



domingo, 12 de abril de 2009

Cama maldita

E a Maria bem pediu. Que não, não podia continuar a dormir naquela cama. Que era muito baixa e fazia doer as costas. Que estava demodé. Que magoava o miúdo nas pernas sempre que este subia e descia. Que tudo o que mais queria na vida era trocar de cama.
Chorou, esperneou, fez beicinho. E teve uma cama nova.
Mas é claro que uma estória na vida da pequena Maria não podia acabar assim. Não podia. Há sempre alguma conspiração cosmica (como diz o gajo da Maria), que faz com que tudo o que pareça certo, esteja errado.
A pequena Maria teve a sua cama nova, é certo. Mas não consegue lá dormir.
Já fez uma caminha no chão da sala, já se agarrou ao sofá, perante o olhar incrédulo do filho, do pai do filho e do gato. É que a cama tem qualquer coisa. Esta enfeitiçada. É o cheiro.
Não se aguenta. Não me perguntem cheiro a quê, porque não sei. Só sei que vou a dobrar o corredor para o quarto e já levo um nó no estômago. Entro no quarto de lenço no nariz. Já pensei comprar uma máscara. Estou desesperada. A cama está a matar-me aos poucos. Devagarinho...
Ainda o outro senhor diz que de manhã é bom é na caminha....só se for na dele...!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sou a mãe do Nelito

Catorze meses, dessasseis dentes, um partido. Começa bem.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Quentes e boas

Lá na fábrica hoje:

"...eu por acaso vi quanto é que o cliente ofere, mas não reti a informação..."

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Ora ai está uma pergunta pertinente..

Hoje no Público:

Ex-coordenadora da PJ condenada a sete anos e meio "Contudo, a advogada de defesa, Graciete Pinto e Silva, adiantou que vai recorrer da sentença, argumentando 'por que é que a palavra de 30 inspectores da PJ [que testemunham no julgamento] vale mais do que a palavra de uma coordenadora?'."

domingo, 29 de março de 2009

Domingo à tarde

O meu filho acaba de me entregar, com ar devoto, a capa da "Morgadinha dos Canaviais", devidamente lambida e mastigada. Ontem foram "Os Maias".
Definitivamente não gosta dos clássicos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

À vontade do freguês

A pequena Maria decidiu-se a deixar de se queixar e a fazer pela vida. E a mexer-se para mudá-la.
Vai dai, concorreu para técnica de RVCC, mesmo sem ter a segunda licenciatura completa. Definitivamente, para mim, isto já é atravessar no vermelho.
Agora, se faz favor, e como dizia o outro senhor "deixem-me trabalhar".

Amor

Hoje foste ainda mais tu. Outra vez.
Bebeste a água dos gatos. Furaste os olhos à gata. Gritaste. Comeste sabonete e não fizeste bolinhas. Reclamaste do castigo. Roubaste comida. Fugiste para debaixo da mesa. Bateste com a cabeça no chão. Gritaste mais uma vez. Agarraste a vassoura. Comeste as toalhitas woolite. Tiraste as pilhas ao comando da televisão. Perdeste as pilhas do comando da televisão.
E agora olhas para mim, de olhos semi-abertos e boca patética a escorrer baba, com ar de quem pergunta se pode ser útil em mais alguma coisa.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Seguir

Hoje atravessei no vermelho, no mesmo semáforo, na mesma rua.
Não me aconteceu nada.
Pode ser que seja um sinal.

terça-feira, 17 de março de 2009

Parar

Hoje, parada num semáforo à espera do verde para atravessar, apercebi-me desta evidência: há as pessoas que atravessam com o vermelho e as que ficam eternamente à espera do verde. Desgraçadamente, dei-me conta de que pertenço ao segundo tipo.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Sono

Tanto que nem tenho conseguido escrever nada de jeito.

sábado, 7 de março de 2009

Os três porquinhos e a Cinderela

Era uma vez a casinha dos três porquinhos: o porquinho-pai, o porquinho-bébé e o porquinho-gato.

O porquinho-pai, empenhado em dar o exemplo aos outros dois, gostava de guardar a roupa suja junto com a roupa limpa, de chegar a casa e atirar os sapatos para o chão, de deixar as meias sujas em cima da mesa de jantar, e as fraldas do porquinho-bébé em cima da cama, fraldas essas, que Cinderela arrumava de manhã, com um sorriso nos lábios, e sem nada dizer.

O porquinho-bébé, inspirado no exemplo grandioso do porquinho-pai divertia-se a vomitar jactos de leite para sítios estratégicamente escolhidos por serem de difícil acesso e ficarem com um cheiro nauseabundo. Entretinha-se também a mastigar e a deixar depois pequenos pedaços de pão espalhados pela modesta casinha Gondomarense ao melhor estilo Hansel e Gretel.

O porquinho-gato, por sua vez, adorava espalhar o conteúdo da areia higiénica à sua volta, assim como deixar tufos de pêlo pelos cantos a simular o efeito do pó. Adorava também passear os seus dois três quilos de pêlo e patas por cima dos pratos enquanto os outros comiam e tinha o estranho hábito de vomitar em cima de tapetes e sofás.

Um dia, Cinderela, cansada de sonhar com uma casinha limpinha, onde pudesse entrar sem tropeçar nos sapatos do porquinho-pai, nas fraldas sujas do porquinho-bébé, ou nos tufos de pelo do porquinho-gato, soprou com tal força que os sapatos, as meias, os tufos de pêlo, a casa e os três porquinhos foram pelos ares. Não sobrou nada.

Até hoje ninguém sabe o que foi feito dos três porquinhos.

PS- Só para que conste: a continuar assim, a próxima história será " O Pesadelo em Elm Street".

quarta-feira, 4 de março de 2009

Estupidismo iluminado II- The beast strikes again

Estava eu posta em sossego no local de trabalho, minding my own business, quando a chefe me pediu para ver uma formação que tenho andado a preparar. Só por precaução. Não vá eu dar algum erro ortográfico e envergonhar sua exa. que tanto "coidado" tem com o Português...

Já só falta enviar o boletim das notas para o meu encarregado de educação assinar...

Não penso, logo existo

É o lema da fábrica onde eu trabalho.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Estupidismo iluminado

Cena triste I: Maria, no local de trabalho, agarrada a um armário que teima em não abrir. A chefe "en passant", informa que, de ora em diante, o armário passará a estar fechado à chave, pelo que, só ela poderá ter acesso ao seu (agora) valioso conteúdo.

Cena triste II - Maria vai tirar uma informação da internet. Mais uma vez, a chefe, diligentemente, esclarece que, de ora em diante, semelhante tipo de informação só será acedida pela própria. A Maria e os restantes colegas terão que lhe pedir, e esperar que esta lhes passe a informação.

Cena triste III - Chefe envia um mail a toda a equipa a explicar que no ficheiro X, se deverá escrever com letras maiúsculas. Para que não haja dúvidas sobre tão difícil tarefa, envia pequeno texto explicativo sobre todos os passos a dar até a letra aparecer maiúscula (lamento mas é mesmo verdade).

Cenas dos póximos capítulos: a chefe informa que, dado o facto de Maria continuar a insistir em usar espaçamentos de 1,5 nos e-mails, lhe será tirada mais essa competência. A Maria suspira. A chefe reclama que o suspiro de Maria é em dó, quando devia ser em fá menor, porque é obviamente esse o tom dos suspiros superiores. Maria suspira novamente, enquanto tira, calmamente, uma bazuca do bolso das calças ( ou da mochila, se não couber no bolso) e mostra à chefe como se pinta na perfeição uma parede de vermelho.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Nem o amor à Venezuela o safa

José Socrates é o primeiro-ministro mais Português de sempre. Logo, queriam o quê?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

À atenção do senhor Cardeal D. Saraiva Martins

Já lá diz a música: " de perto, ninguém é normal".

Casamento

É igual para todos. Eu nunca casei, mas acredito que para quem o faça ou queira fazer seja uma coisa muito importante. Ou não. O que para mim, dá no mesmo. Não me aquece nem arrefece. Não vivo a vida dos outros. E também não admito que ninguém queira viver a minha por mim. É por isso que nestes momentos de elevada discussão, com elementos da igreja referindo-se à homossexualidade como algo que "não é normal" eu dou graças a Deus por não ser homossexual.

Porque não se aguenta. A sério que não. Sobretudo porque, se ninguém se acha no direito de se meter no casamento entre a Maria e o Manel, não percebo porque é que alguém acha que pode opinar sobre o casamento entre o Manel e o José. É que dá no mesmo. Para os outros, dá no mesmo. Não os afecta NADA. A não ser na sua cabecinha miserável de quem quer impor a sua morar aos outros. Quando oiço senhores da igreja na televisão a falar em moral não me dá vontade de rir. Nenhuma. Antes pelo contrário.

Vive e deixa viver, era o que Jesus devia ter dito. Podia ser que assim fosse mais claro.

É oficial

A pequena Maria está de férias. Férias das boas, sem aulas, sem trabalhos, sem empresa estúpida e chefe idiota. Mas, como se tem portado muito mal, a Maria está doentinha. Ácido úrico, diz o senhor doutor. Grande m****, diz a Maria.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Que diabo de Fevereiro tão quentinho

Nem o Dias Loureiro se lembra de um Fevereiro assim.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Curioso

Depois de falar com a simpática funcionária da secretaria da Faculdade hoje, tentando explicar-lhe que um trabalhador-estudante não se pode matricular entra as 9h e as 16h porque está, naturalmente, a trabalhar, percebo os apelos do senhor padre.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Missa

Domingo de manhã tem destas coisas. Estava eu muito deitadinha na minha caminha a fazer zaping, quando, não sei por alma de que santinho parei na missa da tvi a tempo de ouvir o seguinte :


" Rezai senhor pelos funcionários públicos, para que não deêm escândalo e atendam bem as pessoas".


Juro que não estava a sonhar. Até tenho testemunhas.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Não lhe serve de nada

Num semáforo na rua da Constituição, um senhor empunha um cartaz onde diz "tenho fome".
Parada dentro do carro, em empunho outro - "tenho vegonha".

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O dilema da folha em branco

Acham que se eu disser à santa da Professora da Faculdade, em cujas aulas nunca pus os pés, que não fiz o trabalho sobre modernidade e pós-modernidade, porque estou há duas horas de boca aberta em frente ao computador sem conseguir escrever uma palavra, ela me dispensa da apresentação?
Pois...
Também me parece...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

É o progresso, estúpida!

Tinha que ser comigo. Eu podia ter um filho que desenvolvesse uma paixão assolapada por um boneco de peluche. Pelos patinhos da banheira. Por carrinhos telecomandados. Por cubos do Noddy. Por cabeças de Pocoyos. Mas não. Eu não. Eu tenho um filho apaixonado por um telefone fixo da PT.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Ainda há pouco comeu o Gato das Botas

O meu filho devora livros. Literalmente.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O amor é um lugar estranho

Semana passada, na Prova Oral do Fernando Alvim discutia-se a questão do amor. Do amor romântico. E eu ando a pensar nisso desde essa altura. Não sei se acredito no amor. Nesse tipo de amor, pelo menos. O amor tenho-que-sentir-e-fazer-isto-porque-é-assim-que-se-faz-quando-se-sente-amor. O amor "faço tudo por ti, porque é assim que faz quem ama, ( mesmo que amanhã deixe de sentir isso e te mande um pontapé bem dado no traseiro). O amor "queremos tanto acreditar que somos felizes que até enjoa". O amor que é constantemente apregoado e vendido a preços de saldo. O amor dos filmes e das novelas. Não, definitivamente não acredito. O amor romantico é uma ficção. Uma construção social. Uma droga dura que nos engana a todos. Não existe.

Existe a paixão, esse estado ora eufórico ora letárgico em que mergulhamos quando queremos sugar a outra pessoa até ao tutano. Comê-la em colherinhas pequeninas. Fecha-la bem num frasco para não fugir, como diz a música. Tudo o resto não existe da forma como insistimos em vendê-lo. É uma miragem. Apenas uma miragem.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A propósito da leitura e dos livros

Durante a adolescência, e no inicio da idade adulta repeti muitas vezes a frase de que as pessoas que lêem são mais interessantes. Aliás, do alto da minha toda-poderosa sabedoria dos dezoito anos, disse muitas vezes ser capaz de distinguir perfeitamente, em cinco minutos de conversa uma pessoa que lia, de uma pessoa que não lia. Hoje não estou tão certa disso, felizmente. Aliás, acho que quanto mais os anos passam, menos certezas tenho em relação a tudo. Se calhar é a isso que se chama maturidade.
Pensando bem, nesta altura da minha vida, sobra a certeza de que, enquanto ando perdida com as leituras dos outros, alguém anda a viver a vida por mim.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Afinal o que é que queriam que o Cardeal Patriarca dissesse?

Casai-vos, minhas filhas, com Muçulmanos, que diz que é gente que tem fama de tratar muito bem das mulheres?


domingo, 25 de janeiro de 2009

Vendo vida

Só não vendo o filho, de resto podem levar tudo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Yes he can

Não. Não pensem que vou reclamar da vida. Que me vou queixar de já ter enviado cento e vinte mil currículos e de ninguém me ter chamado para uma entrevista. De ter reunido com a chefe para a ouvir mandar-me "auferir" o resultado de determinada acção. De ouvir a coleguinha do lado repetir as palavras "dromir" e "adromecer" até à exaustão. De ter o carro avariado nos travões e de não saber como vou pagar o arranjo. De ter um trabalho para fazer sobre modernidade e pós modernidade e não ter a mais pálida ideia por onde começar. Não. Hoje não. Hoje acredito no Messias.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Hoje sinto-me assim

"Já sou quem tu queres que eu seja
tenho emprego e uma vida normal
Mas quando acordo e não sei
quem eu sou, quem me tornei
eu começo a bater mal.."

Deolinda

sábado, 17 de janeiro de 2009

Que será?

O que é que dá andar quatro dias a comer batatas fritas Lays Gourmet, tostas com manteiga da Leitaria da Quinta do Paço e coca-cola fresquinha com sumol de ananás?
Dá numa grande lontra, é no que dá.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Venha fazer jogging a Central Park

É a publicidade da tap a Nova Iorque já pelo menos há dois anos. Agora podem mudar para "Venha dar um mergulho no Hudson". Parece-me mais adequado.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Pede-se

encarecidamente ao marido da chefe que lhe dê seja lá o que for que ela precisa.
Que a leve ás estrelas ou então com força contra uma parede.
Que a ponha com um sorriso na cara ou a esguichar sangue pelos olhos.
Que a trate bem ou deixe mais alguém tratar, pela saúde das sete ou oito almas que tem que levar com o mau humor de sua excelência, dia após dia, hora após hora, minuto atrás de minuto.
Senão, qualquer dia, trato eu disso.
Da parte dos olhos a esguichar sangue, entenda-se.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Coragem

para mudar de vida.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Maria vai ao Hospital

Dor no peito. Forte. Muito forte. Vários dias seguidos, sem explicação. Ligo para a linha Saúde 24. A senhora enfermeira informa-me que o caso pode ser grave e aconselha-me a dirigir ao Hospital da àrea de residência no espaço de uma a quatro horas. O hospital da área de residência é o de Valongo.

Uma urgência hospitalar é, já de si, uma coisa extraordinária, mas uma urgência hospitalar cheia de Gondomarenses é qualquer coisa de nunca visto. É que o Gondomarense é feliz no Hospital. Gosta de lá ir. Gosta do cheiro. Aliás, o bom do Gondomarense leva o seu próprio cheiro de casa para o Hospital para o ver a lutar com aroma a desinfectante. E ganha sempre.

Chego e vou para a triagem. Refiro dores no peito sem mais sintomas e o senhor enfermeiro,que parece saído directamente de um episódio dos Ficheiros Secretos, enfia-me uma bracelete laranja no braço.

Entro na sala de espera. Várias cadeiras vazias e os Gondomarenses em pé a confraternizar. Encostada à parede, uma senhora de olhos encovados com um saco na mão a dizer "lixo tóxico". É a única com aspecto doente. Os outros parecem felizes. Genuinamente felizes. Contam estórias épicas de esperas de oito horas para sacar uma receita de ben-u-ron. Falam de hemorróidas, e de gargantas com pús enquanto abrem o saco, de onde tiram pão com manteiga para dar às crianças. São visitas da casa. Vêm preparadas para tudo.

A minha bracelete laranja causa curiosidade. Ás tantas a senhora do saco do "lixo tóxico" deita-se no chão. Não se vislubra um médico, um enfermeiro ou um auxiliar. A sala de espera acorre em peso para a ajudar. Vão buscar uma maca e deitam-na lá em cima. Aumenta a intensidade dos olhares na minha direcção. Alguém comenta em voz alta que não se percebe como é que uns que estão tão doentes tem a fita amarela, e outros que parecem finos, tem a fita laranja. Acho que a boca é para mim. De repente se calhar já não me sinto tão mal. Penso em ir embora.

Entretanto, lá me chama o senhor doutor. Sinto os olhares de reprovação e quase que desejo ter uma coisa assim para o grave para justificar o diabo da bracelete. O senhor doutor é ucraniano. Não percebo muito do que diz.Está nervosa? Não. Está muito nervosa? Não. Costuma estar nervosa? Não. Está Stressada? Não. Costuma estar stressada? Não. O senhor doutor insiste. Efectivamente começo a ficar um bocadinho nervosa com esta conversa. Ele lá tem pena de mim e manda-me fazer um raio-x.

No Raio X encontro o António Calvário a fazer de enfermeiro. Trata-me por tu. Hesito em tratá-lo por tu também, mas ele pôe fim à conversa para me dizer que " por mim tás despachada, vai lá ter com o Doutor outra vez". Neste momento já tenho dúvidas se alguma vez vou conseguir sair deste hospital. O Hotel Califórnia vem-me à memória vezes sem conta. Se calhar já estou a delirar.

Regresso á sala de espera. Não há nada como um Hospital quentinho e reconfortante. De um lado e do outro do corredor, doentes animados e bem dispostos. As cadeiras vazias. Faz sentido. Quem está doente fica muito melhor em pé.

Regresso ao Senhor Doutor ucraniano. Tenho dificuldades em perceber o que diz, mas juro que o oiço dizer que os meus batimentos cardiacos são "sensuais". Ou então sou eu que já estou dominada pelo espirito de alegria e animação hospitalar e oiço o que quero ouvir. Neste momento tenho duas cabeças e numa delas só toca o "Hotel Califórnia".

Passa hora e meia. O senhor doutor manda-me tomar uma injecção para o ajudar a fazer o "diagnóstico diferencial". Tenho medo de agulhas. Resisto. Ele insiste. Mais vinte minutos à espera de uma enfermeira. Começo a sentir-me muito melhor. Penso em desistir. A música continua a tocar na minha cabeça:" you can chek out any time you want but you can never leave".

Sinto-me a suar. Se calhar o senhor doutor tem razão. O meu mal é stress. E o stress cura-se em casa. Com chá e com miminho. Com músiquinha a tocar. E com a lareira acesa. Fujo. Cá fora o ar puro. Já não me doi nada.

O pequeno Afonso Henriques

deu-me um pontapé no peito e partiu-me uma costela.
Mal posso esperar pela adolescência...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Bulling ao contrário

Foi na Faculdade. Eu já tinha idade para ter juizo, mas, uma educação ainda muito centrada na figura da autoridade do "Senhor Professor", fazia-me tremer só de me imaginar entrar numa oral de "Direito dos Contratos". Hoje rio-me. Rio-me de mim e rio-me do professor. Duas figuras absolutamente patéticas, cada uma à sua maneira.

Apesar de ter tirado um catorze na frequência, tive, de acordo com as regras da Faculdade, de fazer uma oral. As salas onde se realizavam as orais, eram tribunais onde entravamos condenados à partida. O Senhor Professor estava ali não para avaliar o que sabiamos, mas sim para descobrir o que não sabiamos. Conseguindo-o, não mais largava a presa. O aluno era trucidado sem piedade, frente aos colegas que assistiam, supostamente para se "preparar" para o seu momento de tortura.

Entrei na sala. O senhor professor, sem levantar a cabeça das folhas que lia, mandou-me sentar com um gesto. Olhou para mim por trás dos óculos pretos, estilo "Clark Kent", com a sobranceria que eu tão bem conhecia das aulas e disparou o primeiro tiro: defina o que é um contrato.

Comecei a falar. Não sei o que disse, mas sei que não disse nada do que o Senhor Professor queria. As palavras dançavam-me na cabeça: contrato, uma ou mais pessoas, vontade comum, efeito convergente. Não conseguia ligar nada, nada fazia sentido. O senhor professor, bondoso como só ele, olhava para a biqueira do sapato, bocejando, enquanto escrevia em letras garrafais á minha frente: "REPROVADA". Tinham passado trinta segundos desde que entrei na sala. As regras da faculdade obrigavam a que as orais durassem um mínimo de vinte minutos, e, no tempo que restou, o Professor limitou-se a arrastar o meu cadáver ensanguentado pela sala fora, à frente de uma plateia tanto assustada como ávida de sangue alheio.

Cá fora fiz o mesmo de sempre: liguei á E. e ao namorado da altura, reuni a irmã, a mãezinha e o paizinho que me fizeram ver que o Mundo não tinha acabo nesse dia. E recomeçei a estudar.

Em Julho, exame. Novamente um catorze. Novamente uma oral com o mesmo professor. Entrei na sala, depois de ter estado toda a noite anterior a memorizar a definição de contrato, decidida a provar que sabia e que não era uma fraude.

Primeira pergunta: "então, minha senhora, já sabe o que é um contrato"?

E outra vez as letras a dançarem-me à frente dos olhos: duas ou mais pessoas, vontade comum, convergente, efeito júridico. Nada faz sentido outra vez.. Vejo o Sr. Professor a escrever "REPROVADA" à minha frente, mesmo antes de ele pegar na folha. Sinto as mãos suadas e o corpo a tremer. O sr. Professor vibra enquanto pega devagarinho na folha e na caneta vermelha. Abana a cabeça, num sorriso incrédulo. Volta a escrever a palavrinha mágica :REPROVADA. Sou a sua aluna preferida, não tenho dúvidas disso.

Cá fora, os colegas prestes a entrar no cadafalso, pedem-me ajuda para resolver dúvidas. Não há nada relativamente ao diabo dos contratos, que eu não saiba. Só não me peçam para defini-los em frente à giboia falante que se tornou para mim o Sr.Professor.

Setembro, nova tentativa. Desta vez, com ajuda de um fiel amigo: xanax. Passei sem distinção. Definitivamente, já naquela altura devia ter percebido que Direito não era a minha praia.

Hoje, catorze anos depois, e recordando este momento, a definição de contrato vem-me à memória sem dificuldade: acordo celebrado entre duas os mais partes em sentido convergente, tendente à produção de um efeito júridico unitário. Tão simples.

Como tão simples seria que eu tivesse pedido ao professor, meu colega humano, que esperasse um pouco, que me permitisse respirar e pensar. Como tão simples seria que o professor, pessoa como eu, me dissesse para descontrair, para pensar noutro assunto, que logo voltariamos aquele. Tão simples. Somos todos humanos. E é sempre tão complicado.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Clandestino

dos Deolinda é provavelmente a música mais bonita que ouvi na vida.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Mrs Scrodge

Hoje na hora de almoço tive a ideia peregrina de ir a um centro Comercial comprar pastilhas de café para o Natal. No regresso, fila em cima da ponte da Arrábida. O trânsito não anda em nenhuma direcção. Faz sentido, visto haver centros comerciais nos dois lados da Ponte e Portugal atravessar um raro momento de prosperidade que faz com que o povo possa esbanjar à vontade. No carro ao lado, o meu vizinho aproveita para fazer uma sempre importante e necessária revisão do apêndice nasal, sem se sentir minimamente incomodado com a minha observação atenta. Um pouco mais à frente, decide estender a limpeza ao resto da viatura, e toca de mandar tudo o que é papel, caroço de maçã e pacote de iogurte pela janela fora. Olho para o relógio. Já passam dez minutos da minha hora de entrada e a minha chefe, respeitando o espírito Natalício de amor e compreensão que atravessamos, anda particularmente estúpida, pelo que um atraso vem mesmo a calhar. Quinze minutos. Já estou oficialmente atrasada e não vejo maneira de a coisa se resolver por menos de uma hora. O amigo das limpezas recosta-se nos berloques para o reumático da cadeira do carro, enquanto mira com ar sonhador o terço pendurado no retrovisor. É um romântico. No rádio, o Bon Jovi canta "there´s something about Cristmas time". E há. Há mesmo. O problema é esse. Há músicas idiotas. Há o Bon Jovi e o George Michael. Há a Popota e o Tony Carreira . Há atrasos injustificáveis e chefes imbecis. Há filas de trânsito. Há o Natal dos Hospitais. Há a Leopoldina e o João Baião. Há os amigos ocultos, os presentes idiotas e os sorrisos amarelos. E o que já não há, é pachorra.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Azia

Paguei setenta e cinco euros (sim, setenta e cinco) por um jantar ontem que acabei de vomitar e outra coisa que não digo porque sou uma menina educada.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Como disse?

Ouvida no sítio do costume:
- Então eu disse-le: para a tua mãe é melhor comprarmos um daqueles "couverts" que tem o perfume e o creme.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Erros de palmatória

A mãezinha, que é do tipo que dobra o pijaminha e se dá ao trabalho de colocar, nos mails que envia para o estrangeiro "please don´t call me mr. because i´m a female", veio visitar o blog. E chamou-me à atenção, escandalizada, para um erro de Português, segundo ela, "de palmatória": abracinho não se escreve com "c" de cedilha. É só mesmo abracinho. Sem çedilha, ok? Cedilha.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Estória de encantar

Há meia dúzia de anos, Maria, era, como diria o nosso primeiro ministro “uma jovem do seu tempo”. À noite, deslocava-se frequentemente a espaços de divertimento nocturno, onde por vezes era cortejada por elementos do sexo oposto. Bebia vodka com Red Bull, ou com limão, dependendo dos dias, e dançava até de manhã. Jantava fora com regularidade e escolhia o menu sem olhar para a coluna da direita. Não pedia livros nem Cds emprestados porque gostava de ter os originais. Tinha a depilação em dia, fazia madeixas sempre que lhe apetecia, arranjava as unhas e as sobrancelhas. Lia o Público, a Máxima, a Elle e o falecido Independente. Não sabia quanto gastava em gasolina, porque, pura e simplesmente, não lhe interessava, e havia sempre dinheiro para gastar.
Hoje, o mais longe que Maria vai numa sexta -feira à noite, é da sala para a cozinha preparar o manjar do seu pequeno ditador. Em vez e livros e Cds, compra Noddys e Pocoyos, a quem o minúsculo amo trata de esventrar e tirar a cabeça em dois tempos e sem remorsos. Vai fazendo a depilação com dificuldade, as mãozinhas às vezes parecem as do Freddy Krugger, e as sobrancelhas as do Einstein. Deixou de comprar revistas e jornais, limitando-se a roubar o “Expresso” de casa dos pais, que tenta ler às escondidas, sempre que apanha o pequeno ditador de olhos fechados. Tem dificuldades em vestir uma roupa decente, porque esta normalmente já tem a marca demoníaca do pequeno Estaline: manchas brancas aqui e ali, vomitadas especialmente para fazer com que Maria se sinta miserável e que não se esqueça nunca de quem é o seu amo e senhor.
Às vezes, Maria, criada no pós 25 de Abril, ensaia uma revolução. Hábil como todos os grandes da história, o pequeno ditador rapidamente toma medidas. Aninha-se no seu colo. Rouba todo o amor do Mundo e exibe-o nos olhos, sem vergonha enquanto sorri, deixando escorrer um fio de baba pela boca patética com meia dúzia de dentes. Sabe que ganhou mais uma vez. Ganha sempre. E a Maria tira o rímel e os sapatos de salto alto. Esquece a vodka e o Red Bull. Apanha os restos mortais dos bonecos, regozija com o cheiro de leite azedo, apaga a luz e é feliz.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Mais uma pérola

desta vez do coleguinha da frente: "qualquer dia, a tua sogra muda-se de mala e cunha para tua casa".

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Efectivamente

tenho saudades do Reininho das Dunas e do Vídeo Maria.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Ira is my midle name

Não há estereótipo que me irrite mais do que o do Dâmaso Salcede. É que ele há "Dâmasos" por todo o lado. E como não podia deixar de ser, perto de mim, lá na linha de produção disfarçada de Banco onde trabalho, senta-se uma "pequena Dâmaso". Subserviente, escorregadia, graxista, de cara amarrada para com os colegas e sorriso aberto para as chefias, como convém. Lembram-se das cena dos Dâmaso sempre atrás do Carlos da Maia, a dizer que ele era "trés chic"? Pois é do género. Se o Eça vivesse nos dias de hoje, ela teria lugar cativo nas suas obras.


Ora aqui a Maria, que já leva sete infelizes anos de Banco na pele, foi quem deu formação a este ser. Foi quem ouviu as suas dúvidas angustiadas e quem desfez as suas asneiras sem nada dizer. No mês passado a chefe foi de férias e ao contrário do habitual, delegou as competências na “pequena Dâmaso”. Ok, até aqui tudo bem. Tenho que aceitar sem problemas. A colega trabalha bem, está definitivamente mais motivada que eu, é justo. O problema é que a “ pequeno Dâmaso”, não contente com isso , decidiu que, bonito bonito, era achincalhar a velha mestre à frente dos colegas, para que não restassem dúvidas de “quem é manda aqui agora”. E lembrou-se então de vir lá do outro lado do escritório, salto alto a bater com força no chão, voz colocada e “ Ó Maria, quero que faças isto, e isto, e isto, ok? E rápido, por favor está bem?", seguido da frase suicida "não mandes nada sem me mostrar primeiro, ok?"

Para falar a verdade, o mostro dentro de mim levantou as orelhas logo que ouvir os sapatinhos a bater com força no chão, pelo que, quando chegou ao fim da frase, já ele estava de boca aberta, pronto a engolir a imbecil. Senti o mesmo de sempre : o chão a fugir-me dos pés, o coração que parece que ora vai parar de bater, ora não pode bater mais depressa, as mãos suadas, que, de repente parecem ficar com vida própria, de tanto gesticularem. E a vontade de bater. Sim. Vontade de bater. Porque dentro desta pequena Maria há um gladiador implacável. Um mostro de Lockness. Uma padeira de Aljubarrota.
Não vou escrever aqui o que lhe disse. Sobretudo porque não me lembro. Sei que mais tarde alguns colegas comentaram comigo que fiz muitas referências a palavras como autocracia, despotismo e 25 de Abril. Aparentemente , a “pequena Dâmaso” também não percebeu o meu discurso. Mas, pelo menos deve ter entendido o essencial já que bateu em retirada, fez ela o trabalho que me pediu e não fala comigo até hoje.

Explicar a ira não é fácil para mim, porque até certo ponto, é como ter que me explicar a mim mesma e, infelizmente, não venho com manual de instruções. Porque a ira vive dentro de mim e confunde-se comigo. Eu sou a sua casa. Durante anos, tive um grande sentimento de culpa por alojar este inquilino, mas agora não. A idade também tem que servir para alguma coisa. A ira em mim é como aquela sensação que se tem antes do descolar de um avião: já ganhou muita velocidade e é tarde demais para parar. Comigo é igual. Embora, confesse, que o que vem depois não me trás paz. O C. diz-me muitas vezes “ pensa no que é que ganhaste com isso”. E no fundo se calhar tem razão. Não ganho nada. Nas noites seguintes não durmo. Nada. Penso continuamente na situação. Revejo-a vezes sem conta na minha cabeça. Penso que que podia ter dito mais isto ou aquilo que podia fazer toda a diferença. Castigo-me.
Não é fácil viver comigo. O C. diz-me que parece que tenho que estar sempre em luta com alguma coisa. Na verdade tem razão. Não gosto de ver a vida passar-me ao lado. Não gosto de não intervir. Não gosto de ter coisas por dizer. E vivo sempre neste limbo. Às vezes olho para o C. e tenho inveja. Ele parece-me genuinamente mais feliz que eu. Não tem preocupações. Não acha que tudo é uma injustiça. Não o incomoda o chorar dos outros desde que não o oiça. Dorme descansado. Às vezes, também eu gostava de dormir assim.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Descanso

Segunda feira feriado. Alerto pai do filho que PRETENDO RELAXAR E TIRAR UNS MOMENTOS SÓ PARA MIM, e deixo-o, alegremente, a alimentar a prole. Encho a banheira, água quente, sais de banho, óleos essenciais, e disponho-me a passar uns momentos comigo mesma. Começo a sentir um ligeiro burburinho na casa de banho ao lado. Aparentemente, o meu filho, o pai e o gato estão entretidos com a muda da fralda. Tento abstrair-me. Mergulho a cabeça na água, pode ser que passe. Oiço coisas a bater, talvez portas, ou o chuveiro, não percebo bem, entrecortadas com a voz do pai a falar com os outros dois. O burburinho começa a subir de tom. Estranhamente, a voz aproxima-se cada vez mais. E os passos. Respiro fundo. Param à porta da casa de banho.Hesitam. Sustenho a respiração. A porta abre-se, primeiro a medo, depois decididamente, com urgência. Entra primeiro o pai, o filho nu ao colo e o gato atrás. O pai pede desculpas, tem mesmo que interromper, não encontra roupa para vestir à criança. Olho em volta. Pergunto-lhe se acha que a roupa está ali comigo na casa de banho. Olha para mim atónito. Não percebe. Não percebem. Batem em retirada. Os três. Deixo-me estar a ouvir ao longe a procura da roupa. Fico com pena. Acabo com o banho. Encontro a criança vestida com umas calças que lhe dão pelos joelhos. Interrogo o pai e o gato. O gato fica calado, é inteligente. O pai olha para mim, satisfeito consigo próprio e diz que como eu "mandei" arranjar uma solução, encontrou aquela. A criança debate-se com dificuldade dentro das calças-colete-de-forças. Começo a sentir o monstrinho da ira dentro de mim. Respiro fundo. Dou indicações. Restabeleço a ordem. Volto para o banho. A água está fria e eu estou cansada. Não vale a pena. Vai ser sempre assim. Três contra uma. Não tenho hipótese.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Parecem bandos de pardais à solta

as p***** das músicas de Natal.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Facto

As crianças da Casa Pia receberam cinquenta mil euros de indemnização. O Paulo Pedroso recebeu cem mil.

sábado, 22 de novembro de 2008

Todos iguais

Ao telefone com superior hierárquico:

Ele - Então o que é que achas?

Eu - Não.

Ele - Mas pela fotografia não te parece?

Eu - Define "parece".

Ele - Sei lá....tem o cabelo comprido?

Eu - Não.

Ele - Tem argolas?

Eu - Não.

Ele - Nada?

Eu - Nada como?

Ele - Nada cigano?

Eu - Define "nada cigano".

Ele - Já te disse.

Eu - Não.

Ele - E a letra. Tem letra de cigana?

Eu - Define "letra de cigana".

Ele - Não te faças de parva. Letra de cigana, letra à primária, tosca, mal escrita, tem?

Eu - Nop.

Ele - Tens a certeza? Nem um bocadinho? É que se não for cigana vai ser complicado.

Eu - Pois...

Ele - Pois....olha, manda-me isso por fax que eu hei-de arranjar alguma coisa para recusar.






quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Canção de Natal

Eu hei-de dar ao Deus menino
uma fitinha para o chapéu
e ele também me há-de dar
um lugarzinho no céu.*


*Leia-se, um emprego em condições.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Já alguém reparou

como o Mundo continua cheio até à náusea de Dâmasos Salcedes?

Livro de reclamações

Como é do conhecimento público, a Maria vive na sua modesta casinha de Gondomar acompanhada de mais três seres: dois humanos, um na casa dos trinta, bem parecido e bem falante, embora destrambelhado e outro na casa dos dez meses, igualmente bem parecido e, aparentemente, igualmente destrambelhado. Junta-se a eles um gato maluco, que só bebe água da banheira e que amua se não for penteado de cinco em cinco minutos, primeiro da frente para trás, e depois, de trás para a frente.

Ora, estando a Maria, por estes dias, posta em sossego em frente ao computador, vê acontecer um conjugação perigosa da acção destes três seres: homem adulto a perseguir gato com a escova do pelo, gato a fugir de criança tresloucada de dez meses, e criança tresloucada de dez meses vingando-se da fuga do gato dando valente puxão no computador, que o colocou em estado de coma até hoje.

Tudo isto para dizer que escrevo menos porque o míudo estragou o portátil.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Nova pérola

Em conversa com colega de trabalho:
- Já ouvi dizer que foste à República Checa e à Áustria...
- Sim...
- Mas não ias também a Viena?
- Sim....??
- Ah! Então foste a Viena, à República Checa e à Áustria. Que sorte!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

And the winner is.....

Pois é. Aparentemente a Maria ganhou um prémio. Sem lobbies, sem pressões, sem aldrabices nas votações. E também, curiosamente, sem leitores. Obrigada à única pessoa que, além de mim, lê este blog e que, produziu, realizou e trouxe até nós este simpático prémio. Que Deus lhe dê muita saudinha.




sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Diário de viagem

Nada melhor para começar em beleza umas férias românticas do que chegar ao aeroporto e ter o simpático senhor do balcão do check in a informar que o nosso vôo afinal, era ontem.
Nada melhor do que, duas horas e quatrocentos euros depois, ter a senhora da Tap a informar que sim, com jeitinho ainda nos consegue encaixar num voo desse dia, mas que o problema vai ser a volta, já que a TAP, triste como a noite por nós não termos aparecido no dia anterior, decidiu cancelar também os nossos vôos de regresso.
Nada melhor do que chegar ao dito destino romântico, com menos quatrocentos euros na carteira, e com as escolhas alimentares ditadas pelo empobrecimento repentino e ter uma Checa maluca a insultar-nos por termos ousado pedir um cachorro quente.
Nada melhor do que um Guia de Viagens da Texto Editora (comprem, aconselho vivamente!), que nos manda para farmácias góticas que afinal são pastelarias, e para pastelarias que afinal são casas particulares, e cujo mapa é incompreensivel até para os habitantes locais.
Nada melhor ainda, do que ser parados durante dez minutos por agentes de investigação de emigrantes ilegais, de bigodinhos farfalhudos e argolas nas orelhas, que nos levam os documentos sem nada dizer, e regressam com um "no problem" e um sinal irritado de "toca a andar".
Por tudo isto e muito mais, impõe-se agradecimentos: obrigada funcionários do Aeroporto, obrigada Tap, obrigada redactores da texto Editora que estoicamente fizeram um guia da cidade de Praga sem nunca lá ter posto os pés, obrigada Checa malcriada dos cachorros, obrigada agentes da Policia, obrigada a todo o povo checo sem excepção: sem vós, o filme de comédia negra que foi esta viagem nunca teria existido.

sábado, 1 de novembro de 2008

Time out

Nos próximos dias, o blog estará temporariamente encerrado, para que a autora passe as primeiras férias decentes deste ano, junto com o seu amor, algures num país muito frio.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Alexitimia

Exemplo impressionante de como uma simples palavrinha nos pode fazer entender muita coisa.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mais uma pérola

Diz o coleguinha de trabalho: "estes gajos devem ser nómadas". Pergunta a Maria: "porquê"?.
Responde o coleguinha de trabalho: "porque não percebem nada do que um gajo diz".

sábado, 25 de outubro de 2008

Entrevista com o Vampiro

Ora vai a Maria com o seu melhor modelito, cabelo esticado e lábios pintados para o diabo da entrevista, e aparece-lhe uma Brasileira de salto agulha, calças de ganga e aparelho nos dentes dizendo que o "Sinhô doutô está um pouquinho atrasado". A Maria espera. Pouco depois e em apoteose, aparece o "Sinhô Doutô" . Agradece muito. Também pede muitas desculpas. Parece-me bem. Fala muito em ética e moral, supostamente aquilo que, segundo ele, distingue a sua empresa das congéneres. Tenho o primeiro momento de estranheza, quando o Dr. Ética e Moral, manda vir uma sandocha do bar do Hotel e começa a comê-la mesmo à nossa frente. Decido não dar importância. Se calhar o homem está com fome. Tenho um segundo momento de estranheza quando vejo a secretária brasileira levar um copo com água à boca, e ele lhe dirige um olhar gélido, assim mesmo para o arrepinte, enquanto aponta para uns questionários em cima da mesa. Ela levanta-se tipo mola, ainda com água a escorrer pelos cantos da boca e começa a distribuir-los. O Senhor Doutor entretanto, continua a perorar sobre plano de carreira, incentivos, tratamento ético das aspirações dos colaboradores, etc.

Ora já a Maria está com uma lagrima no canto do olho, a tentar não borratar o rimel que pôs especialmente para a entrevista, quando o amigo Dr. Ética e Moral decide passar aquilo a que o próprio chamou de "inqueritozinho pessoal ". Ora vamos lá então ver as perguntinhas do inqueritozinho pessoal :
Profissão do pai?
Profissão da mãe?
Tem irmãos? Se sim, profissão dos irmãos?
Profissão do conjuge? Em que empresa?
Vive só do seu trabalho?
Tem alguma fonte extra de rendimento?
Tem algum tipo de crédito( habitação, consumo, outros)? Especifique, por favor?
Vive em casa própria? Se não, especifique, por favor (familiares, alugada, emprestada)?

And my onw personal favorite: já alguma vez esteve sem trabalhar por doença ou despedimento?
Ora aí as lágrimas da Maria já eram mais de raiva do que de outra coisa qualquer. Pensei no ginásio onde deixei de ir por causa da porcaria da entrevista. Pensei nos quatro euros e meio que gastei para estacionar a porcaria do carro no Silo Auto. Pensei no incremento que dei à minha úlcera por ter ido a conduzir tipo louca para chegar a horas. Pensei no almoço que deixei de comer porque não podia chegar atrasada.Pensei sobretudo no almoço. No meu e no dele. E vim-me embora. Já dizia a outra senhora que quem tem ética passa fome.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Wish me luck

Entrevista de emprego amanhã. Para ver se deixo de uma vez por todas de ouvir a coleguinha do lado dizer que adromeceu muito tarde.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Perdoa-nos Herman

Há-de vir o dia, espero que breve, em que alguém me consiga explicar esta espécie de catarse colectiva pelo achincalhamento de quem está na mó de baixo. O Herman cometeu muitos erros no Herman Sic? Concerteza que sim, o próprio até já o afirmou em algumas entrevistas. Não teve o sucesso esperado com o Hora H? Aparentemente também estamos todos de acordo. Parece menos fresco, menos cáustico, menos brilhante que há uns anos atrás? Sem dúvida. Mas isso dá-nos o direito de esquecer tudo o que está para trás?
Trata-se do mesmo Herman que fez "O Tal Canal", que fez o "Herman Enciclopédia", que fez " O Casino Royal" e, que, revolucionou o humor no nosso país. Trata-se do mesmo Herman que formou sucessivas gerações para o humor inteligente e informado. Que é responsável por muitas das expressões que usamos hoje, e cuja origem já nem sequer nos lembramos. Que nos permite hoje conhecer Gatos Fedorentos e Contemporâneos, porque, com a sua ajuda, aprendemos a perceber e a apreciar outro tipo de humor.
Colocando as duas coisas na balança, não percebo, porque é que a coisa há-de sempre descambar para o lado mais sombrio. E não percebo sobretudo os requintes de sadismo com que o fazemos. Reduzir o Herman aos erros do Herman Sic e ao eventual flop do Hora H, é, além de estúpido, profundamento ingrato. Usar todo o tipo de recursos desde o cabelo novo,ao processo arquivado da Casa Pia, para atirar ainda mais lama para cima do homem, não nos dignifica em nada. Antes pelo contrário. Faz de nós maus e mal agradecidos. Porque não vale a pena termos ilusões. Somos terríveis. Pusemo-lo lá em cima, mas não suportamos mante-lo por muito tempo. Não podemos. No Brasil, ouvimos a Adriana Calcanhoto dizer "vamos comer Caetano", o Caetano a dizer "vamos Djavanear" e "vem ouvir o preto que você gosta" referindo-se ao amigo Gilberto Gil. Ouvimos o elogio do outro, seja nas referências ao que já fez, seja nas referências ao que ainda se pode esperar que faça. Aqui temos um país inteiro, de dedo apontado, seja à cor do cabelo, seja às camisas, seja às amizades desfeitas, que não lhe perdoa não ter seguido outro caminho. Aqui temos a Fátima Campos Ferreira a dizer que o homem está acabado, que nem sabe como é que ainda aparece na televisão. O Herman. Ela não sabe como é que ele ainda aparece na televisão!
E é isto que nos faz pequeninos. Esta vertigem de prazer com a derrota (ou pseudo derrota) de quem está ou já esteve lá em cima. Não é Bruxelas. Não é a ditadura da França e da Alemanha na União Europeia. Não é o Sócrates, nem foi o Gueterres. Nem sequer o Salazar. É esta p***de maneira de pensar e de agir de quem não quer ser nada, e apenas se limita a desejar que os outros também não o sejam.



domingo, 19 de outubro de 2008

O bom, a má e a vilã

Acho extraordinário a pseudo-modernidade em que andamos todos mergulhados e que se traduz na mais profunda idiotice porco-machista que alguma vez vi.
Em conversa, com algumas pessoas deixo cair que o C. vai levar o bebé à consulta de rotina. Imediatamente tenho uma de duas reações possíveis:

Reacção A - (com ar visivelmente horrorizado, sorriso amarelo, e já com o telefone da comissão de protecção de menores na mão, just in case) - ah, que pena, pois é, tu não podes ir. Deve-te custar imenso não poder acompanhar o teu filho. Mas ainda bem que o C. vai e consegue dar conta do recado. Tens muita sorte, nem toda a gente tem ao lado um homem assim...tão...tão...como hei-de dizer?

Reacção B- (com ar modernaço, entre o neo-hippie e o benzoca esclarecido) - acho lindamente!! Acho giríssimo o pai ir com o miúdo à consulta. Tem que ser. Os tempos são outros. A menina também não pode fazer tudo, não é?

É que isto acontece-me constantemente. Aguardo ansiosamente o dia em que alguém chegue ao pé de mim e me diga "ah, M. tu és fantástica, até vais com a criança sozinha ao médico e tudo!" Sinceramente, mete-me nojo essa treta da mulher no seu múltiplo papel de mulher-dona-de-casa-mãe-trabalhadora-escrava sexual - and so on. Não vou em conversas da treta. Ainda bem que sou mulher, ainda bem que trabalho, ainda bem que tenho um filho. Não é um fardo inerente à minha condição. É um caminho que escolhi. O que recuso é a ideia de sacrifício e de coitadinha-de-mim-porque-não posso-ser-uma-boa-mãe-e-levar-o-meu filho-à consulta.(Já para não falar que nem sequer lhe dei de mamar, ou que faz de mim, segundo algumas cabeças pensantes, um verdadeiro anti-cristo).
O pai do meu filho também é homem, também é dono de casa, também trabalha, e também é pai. Também foi esse o caminho que escolheu. Não é um coitado nem um desgraçado por arrumar a casa, mudar fraldas ou levar o filho ao médico. Assim como eu também não o sou, por fazer as mesmíssimas coisas. Tenho para mim, que é a isto que se chama igualdade

Verdade, verdadinha

A E. liga-me a perguntar se o post abaixo é mesmo verdade. Infelizmente sim.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Enfim

A amiga P., como eu tão conhecedora do potencial de tragicomédia da trambica fantasiada de Banco onde trabalho, ligou-me hoje. Atende a minha coleguinha do lado, e passa-me a chamada sem pestanejar - "tens aqui a D. Agustina Bessa Luis para falar contigo".

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Tu

Gosto do teu ar desorientado pela manhã, com o cabelo no ar, sempre com menos tempo que o tempo que tens. Gosto do copo grande, sempre demasiado grande, a trasbordar, que bebes em golinhos pequeninos, enquanto tentas espreitar o tempo lá fora. Gosto (embora diga que não goste) dos papelinhos enrolados, sempre prontos a nascer em cada canto da casa. Gosto da tua ignorância em relação à conta bancária, aos quilómetros do carro, à prestação da casa. Gosto de te ouvir perguntar pela décima vez se vi os teus óculos enquanto te queixas que não consegues ler as letras da televisão. Gosto da tua parceria com o gato, sempre dois passos atrás de ti, pronto a obedecer à tua voz de comando. Tu.Voz de comando. Dá-me vontade rir. Gosto dos teus olhos rasos de água, sempre que alguma coisa te aflige. Gosto dos meus pés a descansar no teu colo, do meu sorriso no teu sorriso, nas poucas vezes que temos verdadeiramente para nós. Sim, embora não pareça, é assim que eu gosto de ti.

domingo, 12 de outubro de 2008

A amiga Maya

Fui só eu que que ouvi ontem a Maya, num programa da televisão dizer "hoje temos uma estória muito boa. Trata-se do José que teve um acidente de comboio e ficou sem as duas pernas"???

Never in my wildest dreams....

...eu pensei que alguma vez alguém me fosse encontrar num Domingo à tarde a passar a ferro. Hoje abre-se todo um novo capítulo na minha existência. Daqui a pouco estou a pensar ir ao Minipreço, com uma mola a segurar o cabelo gorduroso, e com a carteira debaixo do braço, botar um bocado de mortadela e de pão no carrinho, enquanto penso no que é que vou fazer para o comer do meu home.

sábado, 11 de outubro de 2008

Tesourinho deprimente



Maria - Sr. Professor da Faculdade, posso passar no seu gabinete, no HORÁRIO DE ATENDIMENTO A ALUNOS, para discutirmos o trabalho xpto?

Sr. Professor - Hum...deixe cá ver.....hum....Não. Hoje não posso. Tenho um funeral.

Maria - E amanhã à mesma hora?

Sr. Professor- Amanhã não é dia de atendimento a alunos.

Maria - Pois, mas....

Sr. Professor - Não. Amanhã também não posso. Aliás, não posso a semana toda. Tenho uma conferência para preparar, vou ter que dar aulas de mestrado, e o meu cão vai ser operado à próstata.

Maria - Então para a semana....

Sr. Professor - Para a semana não estou cá. Vou fazer uma palestra ao Brasil. Fico por lá três semanas.

Maria - Bom, depois já estamos quase em Dezembro. Acha que nessa altura...

Sr(a) Professor(a) - Em Dezembro é o Natal.

Maria - Sim, mas podiamos.....

Sr(a) Professor(a) - Natal é férias. No Natal também não.

Maria - Bom. Ficamos com Janeiro. Acha que nessa altura então podemos...

Sr. Professor - Mas você está a brincar comigo? Em Janeiro são as frequências! Não me diga que quer fazer o trabalho mesmo em cima das frequências? É uma irresponsabilidade! Isso não se propõe a um professor.

Maria - Mas então....

Sr Professor - Então já estou atrasado para uma aula. Agora não tenho tempo para falar consigo. Passe pelo meu gabinete, que depois continuamos.

Maria - Mas quando?

O Sr Professor acena ligeiramente com a mão em sinal de assentimento, enquanto se afasta rapidamente pelo corredor.

Agora imagino um cliente do meu Banco, que aparece lá para ser atendido e a que eu respondo que não, que nem pensar, então tem a lata de me ir incomodar quando eu tenho uma pilha de coisas para fazer, e ainda por cima estou preocupada com a queda das acções da bolsa, a crise bancária e o meu possivel despedimento? Já para não falar que o meu bebé vomitou nessa manhã os meus sapatos novos que me custaram os olhos da cara.
A comparação parece exagerada mas não é. Os clientes pagam para ter um bom serviço. Os alunos também. No meu caso concreto pago duplamente: impostos e propinas. Por isso fico revoltada sempre que alguma daquelas almas (salvo honrosas excepções em que a disponibilidade até é demais, como o caso da fantástica professora Teresa M.) tem a lata de me dizer isso. E não disfarço. É que a mim, ao contrário dos senhores professores, ainda não me pagam para eu ter que disfarçar.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Algo de estranho se passa

... quando, ao fim da quarta empregada de limpeza, ainda não consigo fazer com que nenhuma entenda que quando digo "por favor, limpe os azulejos da casa de banho", quero mesmo dizer "por favor, limpe os azulejos da casa de banho". Não quero que mudem as plantas de lugar, que ordenem os frascos de champoo por tamanho, nem que puxem o brilho à minha escova de dentes. Quero, pura e simplesmente que me limpem a m**** dos azulejos! É que eu acho que os meus azulejos cinzentos, começaram por ser azuis.. Tenho uma ligeira suspeita de que, quando estou a falar, elas devem desligar algum botão, ao melhor estilo do anúncio Whiskas saquetas, e depois da palavra limpar, só ouvem "bla bla bla, bla".
Depois de D. Manuela, a que, eufemisticamente, poderiamos chamar "pouco amiga do asseio", de D. Rosete, aquela que encontrei alegremente a aspirar o pó do ecrã da televisão, e que depois de meses a sair repetidamente mais cedo porque segundo a própria "não tinha nada para fazer", teve a lata de me pedir um aumento porque "tinha muito trabalho", eis que tenho um novo tipo de senhora da limpeza: " a Speedy Copperfield". Trata-se, antropologicamente falando, de um misto de Speedy Gonzalez (pela velocidade com que passa pela minha casa, tanta, que ás vezes tenho dúvidas se lá foi), com David Copperfield (o mágico), pela velocidade com que faz desaparecer tudo aquilo que em determinado momento parecemos precisar. Eu sei que estou a ser tudo menos politicamente correcta, e que não se pode generalizar, etc etc, mas se houver alguém que se ofenda com estas palavras, então que me mostre uma, umazinha só que não seja assim, que eu redimo-me, mando a "Speedy" ir fazer magia para longe e fico mais descansada.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Apelo

A letra é só do melhor escritor de canções que conheço: Sérgio Godinho. Mas o apelo é mesmo meu:
"Arranja-me um emprego
Arranja-me um emprego, pode ser na tua empresa, concerteza
Que eu dava conta do recado e pra ti era um sossego
Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores
Seriam uns amores
Greves era só das seis e meia às sete
Em frente ao cacetete
Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos
E feriado em Abril só no dia dos enganos".

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Amor outra vez

Às vezes sou como o poeta: hoje roubei todos os brinquedos do Mundo, e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.

Regresso às aulas

Embora já tenha vindo a algumas aulas (escrevo da Faculdade), na semana passada, dou hoje formalmente início ao meu ano lectivo. Perguntam-me muitas vezes porque decidi tirar uma nova licenciatura. Respondo de todas as vezes a mesma coisa: no meu ponto de vista, não tenho licenciatura nenhuma, esta é a primeira. Não possuo competências, nem técnicas nem de talento para exercer o meu primeiro curso. E sobretudo não possuo o requisito essencial: interesse.
Falo daquele interesse que sinto agora, catorze anos depois de ter entrado pela primeira vez numa Faculdade, e que me faz estudar com prazer, sem quase ter a noção de que o estou a fazer. Que me faz conhecer os autores, as ideias e as correntes, não com o sentido de obrigação, mas com a urgência de quem sabe que há tanto que importa e que fica por saber. Não me venham com leis e com decretos, que eu é mais livros. Nem me venham com Códigos Civis, que eu é mais Romances. Falem-me no Gomes Canotilho, que eu falo do Eça.
Dizem-me que estou maluca. Que não tenho noção da realidade, que não vejo as estatísticas, que nem para os "novos" (adoro este argumento) há lugar, quanto mais para quem já passou a casa dos trinta. Que eu nem tenho noção de como tudo é mal pago. E eu aceito tudo. Tudo mesmo. Só não aceito o rame-rame e a tábua rasa em que se transformou a minha vida, porque um dia também decidi "ir na corrente". Só não aceito sepultar-me viva, num dia-a-dia estúpido sem dar um bocadinho de luta. E sou mais feliz assim.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ainda a praxe

Hoje no Jornal da Noite da Sic, uma aluna dizia que tinha que aceitar a praxe para "não ficar de fora". Desconhecedora destes meandros, e com uma imaginação fervilhante de suaves carícias académicas, imagino logo o "doutor" a dizer para a "besta" (ou vice-versa, porque vai tudo dar no mesmo): "vá, come lá mas é esta sopinha de vomitado, enquanto estás deitadinho aqui na base desta sandwich humana de quinze pessoas, que é para ver se eu amanhã te deixo participar na actividade besuntar-o-caloiro-todo-com-bosta! Senão depois ficas de fora e é uma chatice."

Praxe

Tomar banhos de bosta. Comer sem talheres, de dentro dos próprios sapatos. Imitar animais. Simular sexo em público. Chamar-se a si próprio de jumento. Lavar vidros de carros alheios. Há quem lhe chame, eufemisticamente, mecanismos de integração. Também há quem lhe chame estupidez.

A cadeira da verdade

Ideia fabulosa para novo programa de televisão: a Teresa Guilherme, um concorrente, um estúdio cheio de público. Uma cadeira eléctrica. E uma churrascada no fim do programa.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Maria 0 - GNR -1

Ser Humano - Estou sim, faça favor!
Maria - Boa tarde, eu gostava de falar com a D. Alice, por favor...
Ser humano - Quem???
Maria - A D. Alice...
Ser humano - Que é que tu queres, car*****? Pois que conversa é essa?
Maria - (respira fundo) - A D. Alice....
Ser Humano - Ai que car*****! Pois se ela está aqui ao meu lado, como é que é ela que está ao telefone?
Maria - Não, não é ela quem fala. Eu queria era que ela viesse ao telefone.
Ser Humano - Ah...
Maria - Mas olhe, desculpe, eu não estou a ligar para o posto da GNR de v******?
Ser Humano - Está sim, minha senhora, só um bocadinho que eu já vou chamar.

Conversa verídica, tida na presença das restantes sete ou oito pessoas que tabalham comigo naquela trambica...

Amor

Hoje foste ainda mais tu. Perseguiste os gatos até ao limite do impensável. Comeste o frasco da pimenta. Espirraste. Babaste o sofá. Comeste um pouco de jornal. Entornaste a sopa no chão. Partiste o comando da televisão. Perseguiste um pouco mais os gatos. Espirraste mais uma vez. Gritaste até me fazer doer a cabeça, com aquela urgência de quem tem oito meses e não tem tempo a perder. E agora dormes no meu colo, com a sensação de dever cumprido.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O PNL, a Maria e a Isabel Alçada

Alguém já leu algum dos livros para crianças do Plano Nacional de Leitura ?
Lembrei-me disto depois do "Câmara Clara" de ontem, em que a Isabel Alçada defendia os critérios de escolha dos livros para integrarem o dito Plano.
Ora eu não tenho nada contra a Isabel Alçada. A bem dizer, fui leitora voraz da colecção "Uma Aventura" e tenho por ela grande simpatia e profunda consideração. Mas o que eu nunca percebi, é onde raio é que foram buscar alguns daqueles livros! E sobretudo, com que objectivo?
Para quem nunca teve contacto com alguns dos ditos, sugiro uma visita à Fnac, e a leitura do espectacular "Um dia Normal na Escola".
Para tentar ilustrar melhor estas minhas dúvidas, vou trascrever uma parte do livro "Sapinho e Sapão" de Nicolás Guillen, que tem o autocolantezinho do dito Plano:
Que tens, Sapinho,
que estás tão tristão?
Madrinha, doí-me
a boca, um pulmão,
a testa, o gasganete,
e até um sapatão,
pelo muito que gosto
da sua prima Assunção!
????????
Pergunta à Sra Dra Isabel Alçada ou a alguém capaz de ajudar uma pobre adulta de 32 anos : que Diabo é um sapatão?? E ele dói? Dói onde? E dói por gostar da prima Assunção? Não percebo!
Se calhar, esta minha incapacidade de descodificação metafórica deve-se ao facto de não ter tido nenhum PNL nos verdes anos, mas realmente, não percebo!

domingo, 28 de setembro de 2008

Afinal...

Não. Não ganhei o Euromilhões. Deve ter havido alguém que acreditou mais que eu.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Eu vou ganhar o Euromilhões

Não sei se sabem mas logo vai-me sair o prémio do Euromilhões. A minha irmã, que agora anda a ler "O Segredo" e que mais parece uma fanática religiosa a anunciar a Boa Nova aos restantes mortais diz-me que, o mais importante é acreditar, agir como se o dinheiro já me tivesse saido e sentir como se já o tivesse na mão. "Sente-o, mana, tens que sentir que ele já te pertence" (eu nunca disse que a minha irmã era normal). Pelo que, estimado público, eu neste momento estou a SENTÍ-LO (pus maiúsculas para acentuar o carácter quase religioso da coisa).
E é bom. É muito bom. Devo dizer que me sinto muito bem, agora que sou rica. E recomendo. A partir de amanhã (será que me põe logo o dinheirinho na conta?), vou implementar algumas acções, e, magnânima como sou, não deixo de pensar em todos vós. Colegas de trabalho: abaixo a opressão!! Segunda feira podem contar comigo á porta da empresa, montada numa daquelas gruas tipo desenho animado, com uma bola de ferro à frente para mandar aquela ***** toda abaixo! Abaixo as estatísticas, abaixo os relatórios, abaixo os chefes que não sabem falar Português! José Carlos Araújo: ofereço a operação de reconstrução dos timpanos depois da entrevista ao Valentim Loureiro! Se bem que,Zé Carlos, sendo colega da Júlia Pinheiro, o aparelho auditivo não deve ser o teu forte há muito tempo.
Enfim, a partir de hoje sou rica e isso é que importa. Acredito mesmo nisso. A sério que acredito. Por isso, aproveitem. Peçam que a Maria dá.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Troca

Depois de três curtos dias de férias, regresso amanhã à estupidez do meu dia-a-dia. Alguém troca?

domingo, 21 de setembro de 2008

Os iluminados

Há novidades lá na empresa. Aparentemente alguém arranjou maneira de contornar a fantástica regra de que não se pode ser admitido como trabalhador quando algum familiar já é funcionário.
Neste caso concreto trata-se de marido e mulher e a solução encontrada foi a mais simples: ela concorreu a um anúncio, foi sujeita á mesma catrefada de testes que os restantes concorrentes, foi entrevistada e o que ninguém lhe perguntou também não achou relevante dizer. Foi admitida, trabalha num departamento de call center no primeiro andar do edifício e o marido que desempenha funções externas, trabalha no segundo andar, e tudo ia bem até alguma alma iluminada descobrir a marosca. Alma esta, obviamente, colega dos visados.
Algumas horas terão passado até que os restantes sessenta colaboradores aqui do Norte ( e quem sabe, mais os duzentos de Lisboa), ficassem a saber da estória. Até ai, tudo bem. Estamos no mesmo barco, somos solidários, certo? Dizem-me que não, que os colegas estão chocados e quase fazem fila no tal primeiro andar a perguntar quem foi a espertalhona. E apontam. E dizem, como se fosse a coisa mais natural do Mundo que a pobre não sabe o que a espera, mais uns dias e rua.
E sente-se um arrepio de alegria e alivio por ser ela e não nós. Aquela vertigem de pequena vingança, mesmo para com alguém que é um completo desconhecido, aquelo gostinho de espezinhar alguém só porque está numa situação complicada e nós estamos todos a salvo. E mais importante: estamos juntos. Somos todos iguais e estamos a salvo. Quanto mais apontamos o dedo mais somos iguais e mais estamos a salvo.
Penso em mim e nos meus colegas. Filhos da Revolução, todos na casa dos trinta e já com anos e anos no “lombo” a repetir tarefas, a cumprir ordens estupidificantes qualquer que seja a nossa função, sem qualquer margem de criatividade ou de pensamento autónomo. A ser apenas peças acéfalas numa engrenagem.
Sem questionar nada e a comer o lixo todo. Sem questionar nada de nada, nem sequer porque é que uma pessoa capaz e competente não pode ser admitida na mesma empresa que o marido. Assimilamos sem pestanejar.
E a comer o lixo todo, o lixo todo. Se alguém “de cima” diz que é assim, cumpre-nos assimilar, do baixo da nossa estupidez e dizer ámen. E entrar nessa histeria colectiva, porque o que importa é não ficar de fora ou “mal visto”.
Num país com quatrocentos mil desempregados cruxifica-se em praça pública alguém que ousou omitir uma informação para arranjar um emprego. E glorifica-se quem criou essa regra.
Temos todos medo. Muito medo. O outro senhor não sabia para que país estava a falar quando falou no direito à indignação. É que para isso era preciso perdermos este medo que se nos colou á pele. E é sempre mais fácil “go with the flow”. Quem fez Abril deve ter vergonha de nós….

sábado, 20 de setembro de 2008

Saturday Night Fever

Sábado. Noite a cair. Chuva. Um bocadinho de frio. Uma constipação. Um pijama, um sofá e uma manta. Um abracinho bom. Haverá coisa melhor?
Pode até haver, mas,por agora chega.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Silêncio

Quero dizer-te que o teu silêncio me doi. Nunca me dei bem com os silêncios ensurdecedores. E o teu silêncio é assim. Ensurdecedor, gritante, ameaçador. Rasga-me por dentro, faz-me sentir pequenina. Tudo isto eu já te disse. Vezes e vezes sem conta. E outra vez o silêncio.
Ás vezes chamo-me à atenção. Controlo-me. Vigio-me. Repreendo-me. Digo-me vezes sem conta que não tens que ser igual a mim, sempre pronta para desatar a lingua num turbilhão de palavras. Que sei que me amas, que só me podes amar, embora nessa forma tosca e desinteressada. Mas a verdade, mesmo verdade é que eu não acredito no amor sem esse turbilhão de palavras, mais ou menos sem sentido, sem a cumplicidade dos pequenos nadas, presente nas palavras, ou, ( e aqui sim), na falta delas.
Quero dizer-te que o teu silêncio me doi. Porque é de pedra. È frio, é escuro e é esgotante. E doi mais porque é a medida de todos os dias de tudo o que podiamos ser e não somos.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Eu queria mesmo era não dar nada

O C. pede-me ajuda para comprar o presente de aniversário da cunhadinha. Sempre pronta a ajudar o próximo, sugiro "Educação e boas maneiras" da mítica Paula Bobone. E não é que ele se atreve a ficar chateado comigo?


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Se a Edite Estrela vê isto

Percebo que bati mesmo no fundo quando digo à minha chefe que não podemos escrever "...as instalações desta empresa citada à Avenida dos Aliados....." e tenho como resposta :"porque não? Está muito bem! Citada deriva de citação e nós estamos a citar a morada".

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Maria 1 - Bombeiros 0

Pois é. Para quem pensa que morar mesmo em frente aos Senhores Soldados da Paz é fantástico, pois que há sempre internet wireless de graça, e ambulâncias à mão de semear, desengane-se. Viver perto dos Bombeiros, pode ser uma experiência traumatizante, por vezes, ainda mais traumatizante, do que precisar verdadeiramente deles. Vai um ser humano para a cama, depois de um dia de labuta que só vê-lo, e eis senão quando acorda à uma da manhã com barulhos dos vizinhos Bombeiros. Uma emergência, pensarão vocês? Uma parada de ambulâncias? O ensaio da fanfarra? Não. Nada disso, amigos ouvintes. Os senhores Bombeiros estão a lavar uma viatura. Até aí, tudo bem. Como é de conhecimento público (obrigada, Valentim Loureiro), o concelho de Gondomar, é o que tem a água mais cara do país, logo,ao lavar a viatura depois da meia-noite, os senhores Bombeiros estão a querer poupar. O problema, é que se poupam na água, gastam muito noutras coisas, nomeadamente, e, aparentemente, no vinho. Pois, que além de poupados, os senhores bombeiros são cantadores, e, oh, que canções!!! Qual Quim Barreiros, qual quê? Qual Nelo Silva e Cristiana? Em Gondomar, cada Bombeiro tem um cantor dentro de si, e uma necessidade incontrolável de partilhar com os conterrâneos os ditos dotes vocais.
Vai que a Maria não está para modas, e o dia seguinte é dia de trabalho, e liga para a dita corporação cantante. Reprodução o mais fiel quanto possivel da conversa:
Maria - Boa noite. Quero falar com o sr. comandante (tom afirmativo e pomposo).
Bombeiro - Mas....mas...para quê?
.......
Maria - ....que não se admite, uma da manhã, cantorias, gritos, palavrões....ainda vou ter que chamar a policia para calar os Bombeiros!! Blá, Blá...
Bombeiro - Minha senhora...eu...eu....vou lá ter com eles outra vez. É que eu também já lhes disse mas acho que não ouvem ningúem.
Nem a sirene.

Mais palavras para quê?
Favaios, comparado com Gondomar, é Helsinquia comparada com Cabul
.

Erin Broncovich

É de conhecimento público, (à excepção talvez, da minha entidade patronal) que quero muito mudar de emprego. Dava, sei lá, dois anos da minha vida, por um emprego onde pudesse usar mais de dois neurónios de casa vez e não fosse olhada de lado por isso. E vai então que decido pôr mãos-á-obra e concorrer a um anúncio do Expresso. É também verdade que o dito anúncio não dizia muito. Mas pronto, assim como assim (adoro esta expressão), era um anúncio e decidi mandar. Devo advertir mais uma vez os estimados leitores de que isso foi no passado Domingo. E eis senão quando, me liga a Sra. D. I.P.P., que sim, quer muito falar comigo, bla blá, e encontramo-nos amanha no lobby do Porto Palácio, blá, blá, muito prazer, até amanhã.
E esse amanhã foi hoje. Vários factos a destacar:
1º - Aconselha-se todos os senhores possiveis empregadores (à excepção, talvez, da minha actual entidade patronal), a fazer reuniões em lobbys de Hoteis de 5 estrelas. É que dá logo outro ar. Entrei e senti-me logo uma Erin Brocovich de Gondomar, só me faltava a mini-saia.
2º - Aconselha-se também os senhores possiveis empregadores a não pôr super-modelos a fazer entrevistas. Já não bastava eu ter estado toda a entrevista preocupada com a nódoa de leite que o meu querido bebé me depositou no vestido e que só vi segundos antes de entrar, como ainda me pôe pela frente, uma mulher alta e giríssima, bem vestida, com ar de quem não sabe o que é uma nódoa ou um arroto de bebé? E com aquele aspecto feliz de quem faz o que gosta?
3 º - Amigos futuros eventuais empregadores: leiam bem os CVs antes de fazer as entrevistas. Leiam muito bem. E não falem. Não abram a boca até o putativo candidato falar e deitar por terra as vossas expectativas. È que, a senhora que me entrevistou além de alta e gira e possivelmente detentora de um ordenado milionário, descreveu-me a sua empresa de uma forma tão fantástica, tão romantica e tão tudo-aquilo-que-eu-sempre-sonhei-fazer que só me apetecia mata-la para vez se ainda lhe ficava com o lugar.
As mulheres, ás vezes, são mesmo umas cabras.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Primeiro de muitos.

Alguém pode explicar aos iluminados da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que um trabalhador-estudante, é, por definição, uma pessoa que trabalha? E, que, como tal, limitar as inscrições nos cursos a um único dia útil das 09h as 12h30h e das 14h às 16h, é capaz de ser um bocadinho aborrecido, visto estes se encontrarem (oh, supremo atrevimento!), a modos que a trabalhar????!!!!!
Muito agradecida.