sábado, 25 de outubro de 2008

Entrevista com o Vampiro

Ora vai a Maria com o seu melhor modelito, cabelo esticado e lábios pintados para o diabo da entrevista, e aparece-lhe uma Brasileira de salto agulha, calças de ganga e aparelho nos dentes dizendo que o "Sinhô doutô está um pouquinho atrasado". A Maria espera. Pouco depois e em apoteose, aparece o "Sinhô Doutô" . Agradece muito. Também pede muitas desculpas. Parece-me bem. Fala muito em ética e moral, supostamente aquilo que, segundo ele, distingue a sua empresa das congéneres. Tenho o primeiro momento de estranheza, quando o Dr. Ética e Moral, manda vir uma sandocha do bar do Hotel e começa a comê-la mesmo à nossa frente. Decido não dar importância. Se calhar o homem está com fome. Tenho um segundo momento de estranheza quando vejo a secretária brasileira levar um copo com água à boca, e ele lhe dirige um olhar gélido, assim mesmo para o arrepinte, enquanto aponta para uns questionários em cima da mesa. Ela levanta-se tipo mola, ainda com água a escorrer pelos cantos da boca e começa a distribuir-los. O Senhor Doutor entretanto, continua a perorar sobre plano de carreira, incentivos, tratamento ético das aspirações dos colaboradores, etc.

Ora já a Maria está com uma lagrima no canto do olho, a tentar não borratar o rimel que pôs especialmente para a entrevista, quando o amigo Dr. Ética e Moral decide passar aquilo a que o próprio chamou de "inqueritozinho pessoal ". Ora vamos lá então ver as perguntinhas do inqueritozinho pessoal :
Profissão do pai?
Profissão da mãe?
Tem irmãos? Se sim, profissão dos irmãos?
Profissão do conjuge? Em que empresa?
Vive só do seu trabalho?
Tem alguma fonte extra de rendimento?
Tem algum tipo de crédito( habitação, consumo, outros)? Especifique, por favor?
Vive em casa própria? Se não, especifique, por favor (familiares, alugada, emprestada)?

And my onw personal favorite: já alguma vez esteve sem trabalhar por doença ou despedimento?
Ora aí as lágrimas da Maria já eram mais de raiva do que de outra coisa qualquer. Pensei no ginásio onde deixei de ir por causa da porcaria da entrevista. Pensei nos quatro euros e meio que gastei para estacionar a porcaria do carro no Silo Auto. Pensei no incremento que dei à minha úlcera por ter ido a conduzir tipo louca para chegar a horas. Pensei no almoço que deixei de comer porque não podia chegar atrasada.Pensei sobretudo no almoço. No meu e no dele. E vim-me embora. Já dizia a outra senhora que quem tem ética passa fome.

1 comentário:

macciato disse...

o que é mais triste é aquele sabor amargo da nossa consciência quando pensamos que em algum momento pensamos ser possível ser esta A oportunidade... GOOD LUCK! THERE WILL BE ONE FOR SURE!