quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Perdoa-nos Herman

Há-de vir o dia, espero que breve, em que alguém me consiga explicar esta espécie de catarse colectiva pelo achincalhamento de quem está na mó de baixo. O Herman cometeu muitos erros no Herman Sic? Concerteza que sim, o próprio até já o afirmou em algumas entrevistas. Não teve o sucesso esperado com o Hora H? Aparentemente também estamos todos de acordo. Parece menos fresco, menos cáustico, menos brilhante que há uns anos atrás? Sem dúvida. Mas isso dá-nos o direito de esquecer tudo o que está para trás?
Trata-se do mesmo Herman que fez "O Tal Canal", que fez o "Herman Enciclopédia", que fez " O Casino Royal" e, que, revolucionou o humor no nosso país. Trata-se do mesmo Herman que formou sucessivas gerações para o humor inteligente e informado. Que é responsável por muitas das expressões que usamos hoje, e cuja origem já nem sequer nos lembramos. Que nos permite hoje conhecer Gatos Fedorentos e Contemporâneos, porque, com a sua ajuda, aprendemos a perceber e a apreciar outro tipo de humor.
Colocando as duas coisas na balança, não percebo, porque é que a coisa há-de sempre descambar para o lado mais sombrio. E não percebo sobretudo os requintes de sadismo com que o fazemos. Reduzir o Herman aos erros do Herman Sic e ao eventual flop do Hora H, é, além de estúpido, profundamento ingrato. Usar todo o tipo de recursos desde o cabelo novo,ao processo arquivado da Casa Pia, para atirar ainda mais lama para cima do homem, não nos dignifica em nada. Antes pelo contrário. Faz de nós maus e mal agradecidos. Porque não vale a pena termos ilusões. Somos terríveis. Pusemo-lo lá em cima, mas não suportamos mante-lo por muito tempo. Não podemos. No Brasil, ouvimos a Adriana Calcanhoto dizer "vamos comer Caetano", o Caetano a dizer "vamos Djavanear" e "vem ouvir o preto que você gosta" referindo-se ao amigo Gilberto Gil. Ouvimos o elogio do outro, seja nas referências ao que já fez, seja nas referências ao que ainda se pode esperar que faça. Aqui temos um país inteiro, de dedo apontado, seja à cor do cabelo, seja às camisas, seja às amizades desfeitas, que não lhe perdoa não ter seguido outro caminho. Aqui temos a Fátima Campos Ferreira a dizer que o homem está acabado, que nem sabe como é que ainda aparece na televisão. O Herman. Ela não sabe como é que ele ainda aparece na televisão!
E é isto que nos faz pequeninos. Esta vertigem de prazer com a derrota (ou pseudo derrota) de quem está ou já esteve lá em cima. Não é Bruxelas. Não é a ditadura da França e da Alemanha na União Europeia. Não é o Sócrates, nem foi o Gueterres. Nem sequer o Salazar. É esta p***de maneira de pensar e de agir de quem não quer ser nada, e apenas se limita a desejar que os outros também não o sejam.



2 comentários:

Um gajo qualquer... disse...

Foda-se, tens toda a razão!!!!!!!!

P.S. - Desculpa a asneira, mas sem ela não tinha o mesmo sentido.

Kika Canas da Lapa disse...

Opah tu non te desgraces, carago...

Paletes de gente que ama o Herman e depois vêm estas panelas de pressão sem pipo... Invejosas!!!

;)