domingo, 19 de outubro de 2008

O bom, a má e a vilã

Acho extraordinário a pseudo-modernidade em que andamos todos mergulhados e que se traduz na mais profunda idiotice porco-machista que alguma vez vi.
Em conversa, com algumas pessoas deixo cair que o C. vai levar o bebé à consulta de rotina. Imediatamente tenho uma de duas reações possíveis:

Reacção A - (com ar visivelmente horrorizado, sorriso amarelo, e já com o telefone da comissão de protecção de menores na mão, just in case) - ah, que pena, pois é, tu não podes ir. Deve-te custar imenso não poder acompanhar o teu filho. Mas ainda bem que o C. vai e consegue dar conta do recado. Tens muita sorte, nem toda a gente tem ao lado um homem assim...tão...tão...como hei-de dizer?

Reacção B- (com ar modernaço, entre o neo-hippie e o benzoca esclarecido) - acho lindamente!! Acho giríssimo o pai ir com o miúdo à consulta. Tem que ser. Os tempos são outros. A menina também não pode fazer tudo, não é?

É que isto acontece-me constantemente. Aguardo ansiosamente o dia em que alguém chegue ao pé de mim e me diga "ah, M. tu és fantástica, até vais com a criança sozinha ao médico e tudo!" Sinceramente, mete-me nojo essa treta da mulher no seu múltiplo papel de mulher-dona-de-casa-mãe-trabalhadora-escrava sexual - and so on. Não vou em conversas da treta. Ainda bem que sou mulher, ainda bem que trabalho, ainda bem que tenho um filho. Não é um fardo inerente à minha condição. É um caminho que escolhi. O que recuso é a ideia de sacrifício e de coitadinha-de-mim-porque-não posso-ser-uma-boa-mãe-e-levar-o-meu filho-à consulta.(Já para não falar que nem sequer lhe dei de mamar, ou que faz de mim, segundo algumas cabeças pensantes, um verdadeiro anti-cristo).
O pai do meu filho também é homem, também é dono de casa, também trabalha, e também é pai. Também foi esse o caminho que escolheu. Não é um coitado nem um desgraçado por arrumar a casa, mudar fraldas ou levar o filho ao médico. Assim como eu também não o sou, por fazer as mesmíssimas coisas. Tenho para mim, que é a isto que se chama igualdade

2 comentários:

Maria do Consultório disse...

Totalmente de acordo.
Beijo

macciato disse...

ó filhinha, num me digas que também é o pai que tem de cuidar do menino quando queres ir mijar?