quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Descanso

Segunda feira feriado. Alerto pai do filho que PRETENDO RELAXAR E TIRAR UNS MOMENTOS SÓ PARA MIM, e deixo-o, alegremente, a alimentar a prole. Encho a banheira, água quente, sais de banho, óleos essenciais, e disponho-me a passar uns momentos comigo mesma. Começo a sentir um ligeiro burburinho na casa de banho ao lado. Aparentemente, o meu filho, o pai e o gato estão entretidos com a muda da fralda. Tento abstrair-me. Mergulho a cabeça na água, pode ser que passe. Oiço coisas a bater, talvez portas, ou o chuveiro, não percebo bem, entrecortadas com a voz do pai a falar com os outros dois. O burburinho começa a subir de tom. Estranhamente, a voz aproxima-se cada vez mais. E os passos. Respiro fundo. Param à porta da casa de banho.Hesitam. Sustenho a respiração. A porta abre-se, primeiro a medo, depois decididamente, com urgência. Entra primeiro o pai, o filho nu ao colo e o gato atrás. O pai pede desculpas, tem mesmo que interromper, não encontra roupa para vestir à criança. Olho em volta. Pergunto-lhe se acha que a roupa está ali comigo na casa de banho. Olha para mim atónito. Não percebe. Não percebem. Batem em retirada. Os três. Deixo-me estar a ouvir ao longe a procura da roupa. Fico com pena. Acabo com o banho. Encontro a criança vestida com umas calças que lhe dão pelos joelhos. Interrogo o pai e o gato. O gato fica calado, é inteligente. O pai olha para mim, satisfeito consigo próprio e diz que como eu "mandei" arranjar uma solução, encontrou aquela. A criança debate-se com dificuldade dentro das calças-colete-de-forças. Começo a sentir o monstrinho da ira dentro de mim. Respiro fundo. Dou indicações. Restabeleço a ordem. Volto para o banho. A água está fria e eu estou cansada. Não vale a pena. Vai ser sempre assim. Três contra uma. Não tenho hipótese.

Sem comentários: